segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

INCONTESTE

“... que o tempo passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera.”
                                                     Gabriel García Márquez  - Cem Anos de Solidão


Lembranças, na cabeça ou no papel,
Me mentem o tempo que não cai.
Busco no fundo do relógio derretido
Que é enganado pelas fotografias,
Qualquer coisa antiga que seja sólida,
Mas até a palavra me soa como falsa.

Os sonhos, que não devem às lembranças,
Martelam minha cabeça e se fundem
E se enganam com tanta coisa,
Que fica complicado separar o que é
Ouro puro, do que apenas é banhado.
Então o tempo me acorda sussurrando ao pé do ouvido.

Não volta nunca mais.
Para tudo o que é inalcançável,
Qualquer rua, avenida ou estrada serve,
Porque qualquer caminho frustrará.
A flor murcha ou assassinada
Não é a mesma que cresce agora
E jamais voltará a perfumar,
Por mais bela e cheirosa que tenha sido.
Continua a roda insensível a girar e girar.

Alegria de ébrio. Inocência da infância.
Desejos reprimidos. Fé na humanidade.
O sentimento errante tenta se firmar,
Mas tropeça, cai, e muitas vezes, morre.
A roda leva tudo o que tenta brilhar
E fala mais alto a lei da gravidade,
Porque mesmo o mais alto dos balões no céu,
Assim como os sonhos, na cabeça ou no papel,
Uma hora morre agonizando ao chão.

Só o tempo não tropeça em seus caminhos.

Danilo del Monte


* também publicado em http://recantodasletras.uol.com.br/poesias/2608007

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