sábado, 8 de janeiro de 2011

A MESA


Caminho por dentro de mim, procuro por algo diferente, algo que se perdeu por dentro dos meus cômodos, ou algo que se quebrou e está em cacos. Procuro por entre os corredores, pelos cantos, dentro dos móveis e não encontro nada. Tudo parece exatamente igual. A casa que é minha alma mantém os quartos a meia luz, os móveis a meia altura e as janelas semi abertas. Tudo permanece como estava.

          Minha face no espelho, vista de dentro de mim, é como era desde o dia da minha criação, um pouco mais velha, óbvio, mas a mesma essência, mesma expressão e mesma fisionomia. Os ânimos mudaram, é verdade, mas a causa primária permanece oculta, debaixo dos tapetes ou das camas, atrás das cortinas, dentro das gavetas empoeiradas e vazias... Não encontro.

        Pouco me sinto, mas também pouco me sentia no passado. Os livros sobre a cabeceira são os mesmos, assim como também são as mesmas as frases que caminham pela casa, velhas conhecidas minhas, passam e dizem “oi”. Tudo igual, desesperadamente igual, até mesmo o que sujei permanece sem limpar, e não encontro a razão de ser da minha desesperança.

      Continuo a andar, e, um pouco mais adiante, numa suave curva por dentro de uma das minhas salas, sob uma luz um pouco mais forte, julgo descobrir o que se perdeu dentro de mim. Vejo uma mesa branca e duas cadeiras vazias, era nessa mesma mesa que os meus sonhos e a realidade costumavam sentar para negociar. Era nessa mesa, agora vazia, que se travavam os diálogos que ditariam meu caminho e que me davam uma ponta de felicidade, e eis que agora está vazia, exceto por algumas migalhas de pão e uma garrafa pela metade não sei de quê. Não vejo os sonhos, assim como também não sei o que se deu com a realidade. Não fosse pelas frases a circular os corredores a casa estaria vazia, como uma mansão mal assombrada.

        Após a constatação, viro as costas e saio, não tenho mais ânimo de procurar nada, mas antes eu tranco definitivamente as portas e as janelas e apago as luzes de casa. Perante uma última passagem pelo espelho, noto que o rosto já não é mais igual.

Danilo del Monte



Nenhum comentário:

Postar um comentário