Estou de passagem.
Estou de viagem a bordo de um trem
Que há anos corre sobre os trilhos.
A vida fica aquém, sem brilho
E também já sem esperanças.
Pela janela noto aquela paisagem
Já familiar, sem graça, sem gracejo.
O caminho veloz passa e eu nem vejo.
O trem corre acelerado
E eu, sentado em seu interior,
Sinto o vento recolher notas de amor
E lançá-las janelas afora pelo ar.
Desastrosa é minha viagem sem escalas.
Maldita seja a rosa que não morre,
A rio que não corre
E o tremor que não abala.
Já posso ver a próxima estação.
“Atenção” diz o maquinista, avisando
Que estamos chegando à plataforma.
“Partiremos em instantes”, informa,
Mas noto já distante minha coragem
E me recuso a abandonar o trem.
A vida do lado de fora eu não sei,
Mas acostumei a este conforto e segurança.
Pois bem, agora parte o trem
E vai ficando para trás a estação.
Meu coração bate mais forte,
Ainda que acostumado. Estou parado,
Imóvel no banco como uma criança
Que assiste desenho animado.
Segue minha viagem, segue meu trajeto
E sem nenhum projeto eu observo as paisagens.
Danilo del Monte
** imagem extraída do blog: http://poraipontocom.blogspot.com/2010/09/old-train.html