quarta-feira, 8 de junho de 2011

TARDE

No meio de uma fria tarde
Atingiu-me com força uma vontade
De reconsiderar todas as coisas
Que me entraram nas ideias.
Foi no meio de uma tarde fria,
Já talvez muito tarde em minha vida,
Que meus olhos se abriram - ou se
Anteriormente abertos, se fecharam -
E meus ouvidos se prontificaram
A escutar tudo de outra maneira.

No meio de uma tarde e durou a tarde inteira.

Como se a maturidade da velhice
Me atingisse em plena mocidade,
De repente uma vontade de mergulhar
De vez na piscina em que cuspi,
De sair da sala escura em que entrei,
Livrar-me do cobertor em que me envolvi
Neste chão imundo em que deitei.
- chão por onde passam passos pedantes.
Passos pedantes cruzam o chão -

Tarde fria como todo dia até então.

Há frases, sorrisos e olhares aparentados...
Há piscadas, histórias, mentiras, romances...
Há saudações, manifestações exageradas e frases...
Mas e se tudo não passar da superfície?
Crise que me abate no meio de uma tarde
De raríssima vertigem visionária.
Crise que me faz querer entrar de novo
Na mesma bela podridão de que escapei,
Que me anima a abrir as janelas de casa
E destrancar as portas, arrancar as cortinas
E deixar entrar o sol, o som da rua,
A hipocondria e todos os insetos.
Danilo del Monte

(imagem: Quadro de René Magritte, 1954)

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