sexta-feira, 1 de julho de 2011

GRILHÕES, CORRENTES E PALAVRAS

Existe alguém preso nesses versos.
Nesses versos existe alguém.
Alguém que dentro deles vive confinado,
Que vive por força isolado de um planeta,
Que conhece só o universo feito de letras
E que se distrai em conversas curtas com o carcereiro.

Dentro desses versos há alguém
Que dentro deles foi jogado
E que por força do bom senso não opôs resistência.
Alguém dentro desses versos sente anseio de fugir,
Mas ao mesmo nível e tempo que sente medo dessa fuga.

Nesses versos, cárcere.
Cadeia suja e ordinária onde até o sol sente medo de entrar.
Esses versos, calabouço onde em vão se grita,
Onde em vão se pensa, onde em vão se clama.
Masmorra, esses versos.

***

E durante todo o tempo o carcereiro sorri
Um sorriso dissimulado, cruel,
Mas em certo ponto piedoso,
E não há suplício que possa fazê-lo parar de sorrir,
E seus dentes, enfileirados, escuros, matam com a crueldade, a esperança;
E com a piedade o amor próprio.

Nessas frases há alguém que chora,
Em cada frase há alguém.
Nas metáforas existe um ser condenado a morte
E que cheio de uma covardia que não deixa aparecer
Caminha até ela com um misto de orgulho e desprezo por si mesmo.

A cabeça no triste chão de pedra rolará
E não haverá mãos para a recolher,
Não haverá quem carregue esta cabeça entre os joelhos.

Danilo del Monte

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