quarta-feira, 7 de setembro de 2011

ENTRE NÓS


Como se já não bastasse um...
Forte, cego, apertado na garganta.
Como se já não bastasse um
Que dói de dia e sufoca a noite.
Como se já não bastasse um...

Enlaçado mais um dentro do peito.
Forçado um a mais na consciência.
Como se já não bastasse um,
Uma legião vem-me atar pelos braços,
Que se soltos poderiam machucar;
E também pelas pernas,
Que livres sem dúvida fugiriam.

Acudam – tento gritar sabendo que a voz
Também já foi atada ou não faz parte de mim,
E se a cabeça esquematiza uma fuga,
O coração bate descompassado
Na ilusão de que irá se libertar.

Um... Apenas um bastaria,
Seria suficiente para me açoitar – ou não,
Mas não, como se já não bastasse um
Os mais resolveram também me flagelar,
Receosos da força da traqueia quando acuada.

Ataram-me.
Não um, não três, não cinco. Centenas.
Como se já não bastasse um...

Danilo del Monte


* imagem: Quadro de Isabel Lhano

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