"por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo"
Nelson Rodrigues
Brasileiro adora falar que o
Brasil não presta, disse uma vez Caetano Veloso. Nelson Rodrigues usou o termo
“complexo de vira-lata” pra definir aquele sentimento nojento de “tudo o que é
de fora é melhor”. Não nego que há até
certo motivo compreensível nisso, nosso país é assolado pela corrupção desde a
chegada das embarcações portuguesas; nosso código de leis não funciona e quem
tem poder faz aqui dentro o que bem entende. Mas o curioso é que o desejo da
difamação de si próprio é tão grande que até mesmo o que não é nosso, mas do
mundo, há gente que batiza como “coisa de brasileiro” com o único intuito de
criticar, como o carnaval e o futebol. Paciência. A questão a ser abordada aqui
não é a cultura de forma geral, mas a mesquinhez de quem ergue a voz sem erguer
a bunda, de quem protesta com cliques no mouse, de quem aponta o problema, mas
esquece de apontar a solução quando liga o vídeo-game ou a Tv na hora da
novela.
A revista americana Time elegeu
como personalidade de 2011 “O Manifestante”. Não discordo, foi um dos anos mais
quentes da História e, como essa mesma já provou, rebeliões acontecem apenas
quando a situação fica pra lá de crítica. Enquanto não chega no limite, a gente vai levando, como diz a música, e
acho que este é o nosso problema. Enquanto ditadores caíram e multidões
acamparam em praças batendo o pé contra sanções governamentais, nós continuamos
levando e dando xilique nas redes socias para que ninguém diga que nada está sendo feito. E vamos levando até que o peso suporte que seja carregado, até que um
descuido vindo de cima deixe cair uma pedra a mais e tudo se torne intolerável.
Pode acontecer amanhã, ou no milésimo aniversário da chegada de Nina, Pinta e
Santa Maria.
Mas não é isso propriamente o que
me revolta nisso tudo. O que me tira do sério é a quantidade de revolucionários
de cadeira que a nossa geração pobre e mesquinha criou. Curiosamente, os mesmos
que sofrem do complexo de vira-lata. Parece que a facilidade da informação foi
confundida com a comodidade de incomodar – digo, de tentar incomodar. Recebo
por dia uma quantidade enorme de imagens de photoshop para dizer que no Brasil
se paga mais imposto do que em qualquer outro país do mundo, que o parlamentar
brasileiro é o mais caro do planeta, que brasileiro é palhaço porque assiste
futebol enquanto é roubado; mas na última manifestação que houve na Avenida
Paulista pedindo o fim do foro privilegiado, o fim do voto secreto e o fim da
impunidade, dava pena de ver meia dúzia de pessoas que perdiam as gargantas
para competir com o som ambiente. Enquanto isso despenca no twitter as
mensagens revoltadas de quem sequer abre o jornal, ou pelo menos o Google
Notícias, que não custa dinheiro. Nossos pensadores estão aprendendo a pensar sem a
ajuda dos livros, diretamente de fontes alternativas como charges, sites de
humor e ouvido.
Será que efetivamente é o Brasil
que não presta? Um nome não faz um país. Há quem reclame do calor do meio dia e
do frio das nova da noite, mas não tira a blusa ao meio dia, nem fecha a gola
às nove. Temos uma excelente cultura, mas pouca gente para apreciá-la, temos
muitos para falar mal (e falar o que não sabe) e poucos para analisar um
problema; temos uma nação para “curtir” palavras de ordem, mas uma pequena
cidade para agitá-las pelas ruas. Enquanto isso travamos as páginas dos sites
de relacionamento. Minha pergunta aos revolucionários de cadeira é: Será que estamos fazendo do jeito certo?
Danilo del Monte
"o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima."