segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

AOS REVOLUCIONÁRIOS DE CADEIRA


"por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo" 

Nelson Rodrigues

Brasileiro adora falar que o Brasil não presta, disse uma vez Caetano Veloso. Nelson Rodrigues usou o termo “complexo de vira-lata” pra definir aquele sentimento nojento de “tudo o que é de fora é melhor”.  Não nego que há até certo motivo compreensível nisso, nosso país é assolado pela corrupção desde a chegada das embarcações portuguesas; nosso código de leis não funciona e quem tem poder faz aqui dentro o que bem entende. Mas o curioso é que o desejo da difamação de si próprio é tão grande que até mesmo o que não é nosso, mas do mundo, há gente que batiza como “coisa de brasileiro” com o único intuito de criticar, como o carnaval e o futebol. Paciência. A questão a ser abordada aqui não é a cultura de forma geral, mas a mesquinhez de quem ergue a voz sem erguer a bunda, de quem protesta com cliques no mouse, de quem aponta o problema, mas esquece de apontar a solução quando liga o vídeo-game ou a Tv na hora da novela.

A revista americana Time elegeu como personalidade de 2011 “O Manifestante”. Não discordo, foi um dos anos mais quentes da História e, como essa mesma já provou, rebeliões acontecem apenas quando a situação fica pra lá de crítica. Enquanto não chega no limite, a gente vai levando, como diz a música, e acho que este é o nosso problema. Enquanto ditadores caíram e multidões acamparam em praças batendo o pé contra sanções governamentais, nós continuamos levando e dando xilique nas redes socias para que ninguém diga que nada está sendo feito. E vamos levando até que o peso suporte que seja carregado, até que um descuido vindo de cima deixe cair uma pedra a mais e tudo se torne intolerável. Pode acontecer amanhã, ou no milésimo aniversário da chegada de Nina, Pinta e Santa Maria.

Mas não é isso propriamente o que me revolta nisso tudo. O que me tira do sério é a quantidade de revolucionários de cadeira que a nossa geração pobre e mesquinha criou. Curiosamente, os mesmos que sofrem do complexo de vira-lata. Parece que a facilidade da informação foi confundida com a comodidade de incomodar – digo, de tentar incomodar. Recebo por dia uma quantidade enorme de imagens de photoshop para dizer que no Brasil se paga mais imposto do que em qualquer outro país do mundo, que o parlamentar brasileiro é o mais caro do planeta, que brasileiro é palhaço porque assiste futebol enquanto é roubado; mas na última manifestação que houve na Avenida Paulista pedindo o fim do foro privilegiado, o fim do voto secreto e o fim da impunidade, dava pena de ver meia dúzia de pessoas que perdiam as gargantas para competir com o som ambiente. Enquanto isso despenca no twitter as mensagens revoltadas de quem sequer abre o jornal, ou pelo menos o Google Notícias, que não custa dinheiro. Nossos pensadores estão aprendendo a pensar sem a ajuda dos livros, diretamente de fontes alternativas como charges, sites de humor e ouvido.

Será que efetivamente é o Brasil que não presta? Um nome não faz um país. Há quem reclame do calor do meio dia e do frio das nova da noite, mas não tira a blusa ao meio dia, nem fecha a gola às nove. Temos uma excelente cultura, mas pouca gente para apreciá-la, temos muitos para falar mal (e falar o que não sabe) e poucos para analisar um problema; temos uma nação para “curtir” palavras de ordem, mas uma pequena cidade para agitá-las pelas ruas. Enquanto isso travamos as páginas dos sites de relacionamento. Minha pergunta aos revolucionários de cadeira é: Será que estamos fazendo do jeito certo?

Danilo del Monte



"o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima."

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