sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

VIDA DE ESPERA


Caminhou até a obra esperando sorte.
Esperava o sol e também esperava vento.
Espera todo dia o tormento e a alegria
De suar, de brigar, de morrer e levantar.

Batia no chaveiro esperando samba,
Se ria e bocejava esperando melodia
E assobiava, fazendo do assobio a letra.

Martelou o chão esperando um terremoto.
Destruía o asfalto a ferro, a força, a osso,
Ouvia a sinfonia de ruído drástico e grosso
E olhava no relógio esperando o almoço.

Morreu cem vezes sob o sol ardente.
Quando olhou o céu só esperava nuvem.
Olhou mais uma vez e esperou piedade.
Derramava com sinceridade as lágrimas
Raras e sujas que caíam no asfalto aberto,
E estendeu o braço esperando água.

Esperou o fim da tarde que há de vir, por certo.
Banhou-se em água quente em chuveiro elétrico
E saiu cantando esperando o bar.

Chegou em casa alegre e esperou comida.
Viu a mulher deitada e esperou um beijo.
Ao ver a criançada esperou um abraço.
Rezou às velas para que o pai lhe faça forte.

Caiu na cama exausto esperando sorte.

Danilo del Monte

Um comentário:

  1. Caramba, que foda!!!!!
    Eu li no ritmo de "Construção" , se inspirou na música pra escrever?

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