terça-feira, 4 de setembro de 2012

ELE NÃO REAGE MAIS




– Veja, parece que cansou de existir.
Cansei! Cansei? Não sei,
Mas é certo que já não reajo mais.
Hoje tudo o que me vem, deixo que se vá,
E tudo o que se vai já não me deixa mais recordação.
Eu acho que me cansei de existir,
Ou a própria existência se cansou de mim.

– O que fazemos nós aqui, ele não reage mais?
Lembro do tempo em que novas feridas se abriam em mim,
Meu corpo era o mapa de uma catástrofe física,
Minha cabeça era o moto-contínuo desse mal.
Hoje vivo uma calmaria sem fartura,
Não há mais brigas na mesa de jantar, não há mais,
Assim como também não há comida;
E se não me rebelo contra a fome que me enterra
É porque já não reajo mais.

Meu inferno é o fumo que risca o ar,
Meu abismo, a espuma que traça a onda.
Beleza simples que existe, mas que se exauriu.
Ouço batidas em minha porta,
Talvez velhos conhecidos querendo entrar;
Ouço cochicharem o Amor, a Amizade, o Ódio e o Rancor,
E ouvindo cada um já não os reconheço mais.
Nem mesmo a Saudade, companheira de toda a minha vida
– de todos, a mais íntima que há –
Já não me é capaz de levantar desse sofá.
As sombras desaparecem sob a porta,
Deixo que se vão e ainda as ouça comentar:
– Vamos embora, ele não reage mais.

Danilo del Monte

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