quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O SÉTIMO CÍRCULO DO INFERNO


No centro de uma sombria floresta
Árvores que gemem pela dor são companheiras.
Quem, por curiosidade passa e me arranca um galho
Não sabe a dor que me produz a amputação,
E quem, chorando em Malebolge olha para cima,
Não pode ver mai do que raízes violentas guerreando sob o solo.

No centro de uma sombria floresta estou plantado.
Cresço rapidamente para que lenhadores me ataquem,
Minhas folhas caem secas antes do outono
E a primavera é o sinal de que o açoite está por vir.
Meu rosto é disforme pela dor e pelo crescimento irregular,
Meu corpo, exausto de se arrepender, um caule perturbado
E meus braços se erguem sem esperança de achar a superfície.

Todos têm a ilusão de defenderem-se dos castigos,
Todos correm ou cruzam os braços na hora da pancada – eu não.
Eu somente olho e aguardo curioso a hora do flagelo.
No centro de uma sombria floresta, acima de Malebolge,
Tudo o que me é dado fazer é chorar, é gemer, é urrar.
E no final de tudo, quando todos forem contemplados com seus corpos,
Quando todos tiverem de volta a sua carne lavada pelo sangue,
Eu, no sétimo círculo do Inferno, continuarei árvore,
Continuarei crescendo, quebrando, sendo cortado. Não reclamo,
Afinal, não seria justo receber na morte o que em vida recusei.

Danilo del Monte

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