segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PORTA DE SAÍDA


Por que nós precisamos demonstrar força o tempo inteiro?
Quem disse que o cansaço é a falta do indivíduo?
Não, o cansaço vem de fora, o desânimo, dos outros,
A desesperança todos os dias nasce com o sol,
E todos os dias eu me escondo nos primeiros raios da manhã.
Eu reivindico os meus direitos de fraqueza,
Não quero abaixar do soco, mas sair da briga,
Não quero apanhar por achar bater desnecessário.
Não quero sair de lugar nenhum para que outros possam entrar.

Eu reivindico os meus direitos de fraqueza
E peço para que a humanidade pare de se fingir.
Eu não quero mais levantar desse lugar,
Me desenrolar desses grossos panos,
Erguer a cabeça e mostrar a cara limpa e brilhante. Não...
Eu quero que todos saibam que não me importo mais,
Que o meu rosto desfigurado é o espelho de todos nós,
Que na minha face desiludida está a percepção da natureza.
Eu quero fazer reconhecida a minha fraqueza,
Venerado o meus desprezo pelo mundo
E acima de tudo, quero fazer reconhecida essa culpa.

Se a massa corre sem saber pra onde,
Por que diabo eu preciso correr junto?
Eu estanquei na largada e daqui não dou mais um passo,
Eu só observo a corrida que não termina,
Vejo de longe os competidores cansados, mas ainda correndo,
Observo a exaustão negada de cada um
E me deito no asfalto para pensar que a corrida tem destino,
E que nós (corredores e desistentes) vamos para o mesmo pódio fedorento.

Eu não quero aparentar ser forte como uma criança.
Se não me escondo do castigo, não é por não sentir as pancadas,
Mas porque o globo não tem porta de saída.
Porta de saída... existe uma
Situada no fim do mais escuro corredor.
Eu, que já estou dentro da casa, nunca me atrevi a abrir a porta,
Sendo honesto, nunca a reparei. Gesto de força ou fraqueza?
A porta... quantos recados eu daria saindo pela porta
Que na verdade não é dos fundos, mas da frente,
É a única maneira de sair sem ser empurrado
– e quanta coisa no mundo nos pode empurrar... –
É a única maneira de mandar nas próprias pernas.

A porta. A solução de todos os males.
Deixem-me andar, cansado como estou,
Um dia eu giro a maçaneta.

Danilo del Monte

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