quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

MERECEMOS




Hoje eu acordei pedindo o fim de tudo.
Digo, quase tudo, não desejei o fim do mundo
Porque não seria justo que acabássemos assim, sem mais nem menos.
Hoje eu acordei querendo viver o começo da degradação,
Querendo ver a humanidade pelejar em sofrimento.
Notar nos olhos de cada um, um pedaço da culpa.
Hoje eu acordei querendo ver o fim, desde o início,
Do que chamamos condição humana.

Pra que tantos pedidos de desculpa?
Pra que tanta formalidade para pisar sobre alguém?
Toda a nossa vontade de fazer o mal pelas vias do bem,
Pelas vias do mal merece ser destruída.
Por isso hoje eu quero ver a devastação da cidade,
Os saqueadores invadirem nosssa almas e retirarem tudo que sobrou
(e quantos não voltarão de mãos vazias, praguejando contra o céu?)

Hoje eu queria um caos absoluto,
Daqueles que as pessoas se matam por água e por comida.
Um caos que contaminasse as ruas da cidade,
Maltratasse os velhos, as crianças e as mulheres.
Queria ver os homens fugindo dos animais famintos,
E os animais ameaçados pelos homens armados de porrete 
E igualmente famintos.
O medo, a miséria, a culpa, a barbaridade, a morte...
Tudo estampado em todos os olhos, em todos os rostos,
Nos que um dia foram belos e nos que já nasceram feios.

Hoje eu queria um descontrole total,
Que assassinatos e espancamentos não pudessem ser levados a tribunais.
Que cédulas de dinheiro só servissem de papel higiênico.
Que casas e carros e roupas já não fossem a identidade de ninguém.
Hoje eu queria que todos nós estivéssemos cegos
De uma cegueira que não atingisse apenas os olhos,
Mas tudo ao que diz respeito à nossa condição.
Queria todos surdos aos pedidos de ajuda, à morte rápida.
Sem olfato e nem paladar que possam repudiar a carne podre, mas nutritiva,
Que havemos de comer e lamber os dedos.

É tempo de ser dito: “Veja
O que estamos fazendo com nós mesmos”.
Mas já estamos todos cegos e não podemos notar o que acontece.
Minha voz já quase não sai, quando acha que vai conseguir, desaparece.
Pra que tantos pedidos de desculpa?
Pra que tanta formalidade para pisar sobre alguém?
Quando vierem matar-me
– peço como quem pede um copo d´água –
Não venha o assassino me pedir licença,
Não me entregue caneta me exigindo assinatura,
Nem tampouco me estipule data e horário para a execução.
Não me dê, sequer, a chance de me desviar do golpe.

Danilo del Monte

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