quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

UM DIA SAÍ EM BUSCA DELA




Resolvi cruzar a cidade em busca dela,
Certo de que em algum lugar ela haveria de cruzar comigo,
Andando, calmamente, em minha direção com sua silhueta elegante.
O local mais adequado? Avenida Paulista, é claro.
Como cansasse de percorrê-la,
Sentei-me e me propus a esperar,
Pelo tempo que fosse, me propus esperar.
Sentei-me num bar
(desses que tem mesa na calçada,
Pois era necessário observar tudo do lado de fora)
E então parei meu tempo.
De olhos atentos, fiquei a procurar.

Onde será que ela pode estar?
A princípio não vi ninguém. Ela não vem.
Então, com meus olhos úmidos vi um anjo na calçada,
Tão bonito que tanta gente parou para observar.
Não se movia, parecia morto de susto,
Mas ainda tinha os olhos vivos
E viu quando um menino lhe entregou uma moeda.
Era um anjo pobre.
Curvou-se, agradeceu, exibiu-se e voltou a morrer.
O anjo bem que podia ser Ela...

Conheço essa melodia que toca agora...
É algo composto por Bach.
Antes tocava Beatles - Eleanor Rigby, para ser preciso -
E todas as pessoas pareciam solitárias como eu.
Somente agora me ocorre que Bach podia ser Ela,
Mas não se parece,
Como Beatles também não parecia,
E tampouco os músicos da calçada.
Por que será que ela não vem?

(Distraio-me um instante com o skatista
Que atropela um trabalhador saindo do prédio.
Pobre homem engravatado...
Mas também foi pego de surpresa, o skatista,
O homem atravessou a calçada de assalto.
De qualquer maneira, pior para o trabalhador,
Pior para sua pasta que rolou na poça d’água)

Mas veja, veja...
Há um palhaço vindo em minha direção.
Noto a maquiagem, os sapatos gigantes, a peruca...
É um palhaço clássico.
Porém agora, conforme ele aproxima, noto que está triste.
É um palhaço triste...
Tem cara de choro e de cansaço...
Então é Ela!
Vem no corpo do palhaço triste que vem,
E se está triste, só pode ser por causa dela.
Venha, venha palhaço, venha.
Ele chega, mas passa distante de mim,
Lá quase no meio fio da calçada,
Anda depressa e sequer vira o rosto.
Vi o palhaço de perfil, debochando de mim
Com seus olhos de choro,
Olhos que bem podiam ser dela... mas não eram.
Ela não era o anjo, nem a música,
Não era Ela o skatista e nem o homem de terno,
E o palhaço era só um palhaço
Que já não sei se estava triste
Ou se nascera com os olhos em contradição com sua carreira.

Ela não vem,
Mas quem pode negar que a encontrei?

Danilo del Monte


*imagem: