sexta-feira, 28 de junho de 2013

ODE À UMA CASA

Assim nascem as saudades.
Caixas espalhadas pelo chão.
Tábuas de uma cama desmontada.
Plásticos que protegem a fragilidade dos aparelhos.
Assim nascem as saudades,
Costumam ter origem num canto de sala
De uma casa
Anfitriã de risos e histórias,
E que agora, pouco a pouco,
Vai deixando de existir.


De que serve esta louça empacotada?
E estes quadros, por que estão fora das paredes?
Visto dessa maneira,
Este lugar parece ser maior,
Mais arejado, mas espaçoso.
A garrafa de café tem a cara de um senador que eu não conheço
E os talheres informam a cotação da bolsa de valores.
Visto dessa maneira, tudo me parece mais amplo,
E se outrora se mostrava apertado e confuso,
Este lugar,
Por certo era por tanta alegria acumulada que tomava espaço;
Alegria que inventava lugar para ficar,
Que via, do quintal exausto, o nascer do sol,
E só depois espalhava os colchões pelo chão e se acomodava.

Assim nascem as histórias.
Assim nascem as saudades.
Mas o que, afinal, estamos levando daqui?
Apenas móveis com roteiros de cinema?
Panelas cozinhando celebridades?
Não, estamos levando, também, as paredes.
Estamos levando o telhado,
Os batentes das portas, as colunas e as vigas.
Estamos levando o quintal para as reuniões,
Estamos levando o chão para as danças.
Estamos levando a casa.


Transforme-se, casa, transforme-se.
Assim nascem as histórias.
Assim nascem as saudades genuínas,
São oriundas de um canto de sala
De uma casa
Anfitriã de risos e histórias,
E que hoje vive em outro endereço,
Mas continua – e continuará -
Sendo sempre a mesma casa.

Danilo del Monte

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