segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

TRÊS (SOMOS PERFEITOS)



Não há dois sem três,
Dizem os portugueses mais apegados aos ditos populares.
Sou levado a crer nos lusitanos
E nunca neguei o valor dos ditados,
Mesmo discordando que a voz do povo é a voz de deus,
Pois é sabido que o único lugar onde deus nunca esteve
Foi entre as pessoas comuns.
- Barabbas libertem

De qualquer forma
Há qualquer coisa no número três
Que o transforma em divino,
Que transcende a matemática
E o leva ao nível da perfeição.
Os mais antigos caluniadores já sabiam disso
Quando partiram uma mentira única em três;
Desde então o três é o número divino,
dado Pai, Filho e Espírito Santo;
E também o número infernal
Para os ouvidos que conseguem perceber um trítono
- Diabolus in musica.

Não há romance bem escrito sem o terceiro fator.
Sob a forma de dois está o amor puro e simples,
Que por si só nunca bastou.
Um puro sentimento é puro demais
Para enredar qualquer coisas que seja bela.
Se é grande e bonito, todos sabem, é triste.
Ainda que este seja o personagem central,
É o coadjuvante que dá a liga.
Não haveria Romeu e Julieta sem o ódio entre as famílias,
Não haveria Otelo sem o ciúme,
Não há síntese sem tese e antítese.
Não haveria Bentinho e Capitu sem Escobar.
O que seria do Castigo sobre o Crime se não fosse o julgamento
- seja de um juiz, seja da consciência -?
Entre o assassino e a vítima há o que sentencia.
- Amor que ao amado não perdoa o não amar.

E é justamente agora que me chega essa luz
- agora sim, porque me era necessária -
Agora percebo o quão perfeita é a nossa história.
Se temos o amor e a saudade,
Temos também a obrigação de suportar as pedras
Oriundas essa dupla incompleta.
Somos perfeitos
- mas não perfeitos um para o outro, pois estaríamos reduzidos a dois,
somos perfeitos para algo mais além deste egoísmo -.
Soprano e Barítono não se tornam heróis
Sem passar pelas provocações do Baixo.
Somos dissonantes e malignos,
Cada um de nós responsável por uma nota de três tons,
E nossa perfeição está no intervalo que dá o trítono.

Somos perfeitos pelas nossas imperfeições,
Protagonistas de tragédias,
Porque comédias raramente ganham a imortalidade
- E quando ganham são também divididas em três –

Danilo del Monte

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