domingo, 12 de julho de 2015

ELA COMPENSAVA TODAS AS FALTAS

Era bonita
- ou pelo menos eu assim a tinha -
Não faziam falta as faltas que lhe via
quando escondia com as mãos a face enrubescida,
vexadíssima ao ser enaltecida
por elocuções que não podia captar.

Não sabia que do Cosme Velho um bruxo assombrara o país,
e que toda a Paris se arrastara pelas ruas atrás de seu esquife.
Tinha a voz melodiosa - maliciosa por estado natural -
mas nunca lhe ocorrera suplicar em canto
pelo fim das saudades conduzidas pelo mar.
Era Remédios caminhando nua pela sala,
desafiando e convidando ao suicídio os suicidas.
Era muda. Era clarividente. Era tediosa.

Não sei bem se tinha uma beleza etérea
ou se era o ar de personagem que morreu na fita bruta.
A ela não fazia diferença o vício dos trópicos
ou a culpa do expatriado na Sibéria.
Não podia ser rosa mais do que uma rosa,
nem compreendia ser pessoa algo além do singular.
Era simples tal qual sua existência de balzaquiana acriançada,
festiva no desconhecimento da ambiguidade de um sorriso.

Danilo del Monte

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