terça-feira, 8 de novembro de 2011

MEUS FILHOS


Meu desgosto ao criar um texto
É comparado ao de uma mãe que pare um filho morto.
Vejo um cadáver nascer de dentro de mim,
Tão horrível, tão desfigurado, tão medonho
Que sinto aumentar minha afeição por ele.

Outrora tive um sonho
(E sonhos são tão frágeis e se esgarçam tão rápido)
Assim que percebi que mesmo mortas minhas crias eram belas;
Sonhei vê-las crescer,
Ganhar a vida que eu lhes neguei.
Foi só um sonho, bobo como todo sonho,
Mas por um instante jurei ser exeqüível.
Sinto tudo e tudo sinto muito mais por mim.

Queria tanto ver meus filhos perderem-se na vida,
Vê-los fazer as próprias amizades de má influência,
Chorar trancados no quarto ou no banheiro
E um dia depois dissimular o choro com um riso falso.
Queria vê-los padecer de angústia,
Queria vê-los, também, angustiar aos outros,
Quem sabe aos outros também fazer sorrir.
E por fim, vê-los definhar ao tempo de forma natural...
Mas não, eles já saem mortos de dentro de mim,
Me resta o trabalho de fazer o funeral.

Danilo del Monte

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