segunda-feira, 26 de agosto de 2013

É CONTRAMÃO




A rua pela qual eu trafegava não tinha continuidade,
À frente, uma rua transversal obrigava-me à conversão.
Dei seta para a esquerda.
– É contramão – disse-me uma velha amiga no banco do passageiro –
Veja a placa ali. É contramão.
Não discuti e dei seta para a direita.
– É contramão. Não vê a outra placa logo ali?
Irritei-me
– Mas então quem diabos entra nessa rua?
– Ora, aqueles que não sabem interpretar as placas.

Senti-me envergonhado por ser tão óbvio.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

FOGO

E então o homem aprendeu a fazer fogo

E se não soubéssemos queimar as coisas?
- questiona-se o Inexistente -
E se o raspar de uma pedra em outra pedra
Ou de um graveto em outro graveto
Tivesse jamais produzido uma faísca?
- assim pensa o ingênuo Inexistente –

Mas então o homem aprendeu a fazer fogo

Que trágico experimento...
Que brutal sabedoria...
Desde que o homem aprendeu a fazer fogo
Adormecer tornou-se uma tarefa perigosa
- lamenta-se novamente o Inexistente -
Água, existe (sempre existiu)
Capaz de apagar qualquer chama sobre um corpo,
Mas o fogo parece ser mais belo e chamativo
Do que a fumaça que sobe quando o apagam.
Um corpo queimado é uma oferenda
(e quem há de se atrever a apagar uma oferenda?)

Para isto os homens dominaram o fogo...

Danilo del Monte