quarta-feira, 27 de maio de 2015

DA MINHA MORTE

Sinto que morri.
Padeci em algum leito sujo de um hospital mal preparado.
Senti dores no peito,
Dores no coração,
Senti dores nas articulações do corpo
E nas convicções que trazia em mim.

Sinto que morri
Sem saber contar os dias do meu sofrimento.
Agonizei na invalidez,
Praguejei contra as paredes e fiquei vexado,
Dei escândalo frente à fatalidade
E pedi clemência.

Nesse período pós morte, experimento
Uma sensação de agonia e de realidade
E vejo tudo com menos brilho e mais nitidez.
Trago os meus olhos furados,
Vazados de fora a fora
Por luzes e cacos de vidro,
Enquanto os meus ouvidos pingam
Monotonamente
Notas imaculadas misturadas a sangue coagulado.

Sinto que morri
Completamente abandonado pelas ilusões,
Às vinte e três horas de um dia santo,
No leito sujo de um hospital mal preparado
Onde circunspectos doutores jogam baralho no corredor.

- Morto... morto...
Enlouqueci!

Danilo del Monte


imagem:
Edvard Munch - Ao Leito de Morte