terça-feira, 10 de julho de 2012

UM HOMEM NÃO CHORA


Na calçada de frente para o bar um homem chorava.
As lágrimas que escorriam dos olhos paravam na barba
Grande, emaranhada e grisalha,
O que lhe dava a aparência de um mendigo que chora de pobreza
Ou de um sábio que chora por uma desilusão filosófica
(poderia ser os dois, visto que estava em frente ao bar).
Porém, não vi pobreza em seu rosto, e nem vi sabedoria.
Não vi copos ao seu redor. Não vi amigos.
Não vi o descaso no rosto de quem passava em frente.
Não vi ou ouvi risos do público. Não vi público.
Não vi nada dessas coisas que os poetas veem.
Vi apenas um homem de barba grande, emaranhada,
Que chorava na calçada de frente para o bar.

Um homem não chora!
Mas aquele senhor chorava e sem dúvida era um homem.
Um homem não chora, e é justamente essa máxima
Que torna o choro do homem o pranto mais triste.
As mulheres têm licença para chorar; e as crianças, o dever,
Mas um homem de barba grande, emaranhada e grisalha,
Sentado na calçada de frente para o bar não pode chorar.

Eu, fascinado, não quis imaginar razões para o que via,
Todo motivo é nobre quando se pretende prantear.
Mas que monstro existe no soluçar do homem
A ponto de haver uma moral proibição que o impede de chorar?
Descobri quando passava de frente para o bar
E vi mais do que tristeza em seu lacrimejar.
Ali havia desesperança, havia melancolia,
Mas havia também uma enorme dose de coragem.
Ali estava a rendição masculina.

Concluí que aquele homem chorava apenas pelo direito legítimo de um homem chorar.

Danilo del Monte

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