quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DEIXE-ME NINGUÉM



Eu quero me tornar Ninguém,
Convicto de que quem É,
Acaba, na verdade, sendo, também, ninguém,
Mas um ninguém pior do que quem quer ser Ninguém.
Quem É porque ser quer
– alguém ou alguma coisa qualquer –
É alguém pior do que quem já morreu.

Mas convicção também não quero ter,
Não é próprio de alguém que como eu,
Almeja ser Ninguém.
Deixe-me estar além desta festa,
Desta falácia de quem busca ser alguém,
De quem busca ser aquilo que não é
Pelo simples pânico de ser ninguém.

Eu quero ser Ninguém!
Eu estou quase conseguindo ser Ninguém
Depois de tudo o que ser eu já tentei.
Eu já tentei ser Eu,
E de mim, meu próprio eu se escondeu.
Eu já tentei ser uma farsa,
Mas a farsa dentro de um sonho se perdeu,
E o sonhos, como tudo, o tempo esgarça,
E tudo joga ao chão e a tudo pisa
Com as botas que a vida pisa uma ilusão.

Aprendi que o Alguém é sempre muito triste
Porque alguma coisa ele é,
E de alguma forma qualquer ele existe.
Aprendi que quero estar do avesso,
E já começo atingir o estado de Ninguém.

(De repente, sem querer, ser o ideal de alguém
Quando alguém quiser
Ninguém.)



Danilo del Monte

* inspirado no poema de Emily Dickinson

** imagem: Quadro surrealista de René Magritte


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