quinta-feira, 3 de maio de 2012

NON DVCOR DVCO



Perdoe-me,
Mas as palavras que brotam de tuas esquinas,
(e são tantas as palavras), eu não sei como utilizar.
O barulho que acorda,
O barulho que não deixa dormir,
Tantas vezes confundo qual é qual
Que nas noites de maior agitação
Já não diferencio uma buzina de um violinista de esquina.
Perdoe-me.

Conheço-te como se conhece uma irmã,
Mas ainda me perco em teus caminhos
Como se perde um homem no corpo da mulher que ama.
Não, eu não te amo,
Não poderia jamais amar uma realidade,
Mas penso em ti como uma vida e não uma ferida aberta.
Se o mundo não pode me dar paz, muito menos pode ti.
Mas pra quê, se um homem quando em paz padece do próprio sossego,
Morre vítima da própria tranquilidade?

Perdoe-me pela minha incapacidade
De lançar-te às bocas dos artistas.
Não repare no meu limitado atrevimento.
Filho que sou, grato e deslumbrado,
Estendo submisso uma mão a ti
E a outra aos continentes que dançam nos teus vícios.
Chora como quem ri,
Depois se ri como quem chora;
E com tantos gritos enfurecidos, teu soluço é sobreposto,
E com tantas luzes espalhadas, seus olhos se embaçam,
E a beleza que há neles somente gente como eu pode enxergar.
Perdoe-me, deusa de sonhos.
Triste imperatriz da realidade, perdoe-me.

Assim, como quem a própria casa
Venera pelo avesso e depois pelo avesso
(como só os baianos sabem fazer),
Eu me esforço em teu louvor e te agradeço, sobretudo, pela embriaguez.
Para viver teu filho aprendi a ser plural,
E passo despercebido dentre tantos irmãos, primos e agregados...

Continuo estrangeiro.
Isso me basta.

Danilo del Monte

imagem: Alexandre Mendes

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